No espelho


Uma mulher mata a filha do amante com o cadarço do tênis dela. Vingança.
E toda uma imprensa faz o papel de psiquiatra, juiz, analista de comportamento, advogado, médico, pai e mãe.
É incrível como a sociedade que cria a loucura a expele como se fosse alheia. O próximo passo pode ser a afirmação de que todo adultério será punido por um infanticídio. É nojento pensar que esse tipo de coisa vem de gente que se diz jornalista, psiquiatra, conselheiro, macumbeiro, advogado e cuidador da moral e dos bons costumes.

Ainda lendo Admirável Mundo Novo de Aldous Huxley e cada vez mais apaixonada pelo livro e pela forma poética como Huxley escreve, comecei a pensar sobre esse futuro higiênico que o autor previa em 1932.
"Estabilidade. Não há civilização sem estabilidade social. Não há estabilidade social sem estabilidade individual".
O buraco é bem mais embaixo, mas porque deixar a confortável superfície, onde o outro, que é diferente de mim, é capaz das maiores bestialidades.
Pois é... o ser humano é mau. A civilização é um alívio adaptativo, embora nem todos se adaptem...
Kadafi enlouquece em palcos públicos na Líbia. Berlusconi brinca de coronel na Itália. E os bispos que se proliferam mais do que lixo na enchente, gritam o que está certo e errado pra canais de televisão.
Sim, a perversão existe, e é humana... Muitas pessoas são perversas, muitas... Impor a Lei é uma alternativa? Não acredito nisso. Usar como emblema para mais manipulação religiosa, política e moral, é a opção adotada e a mais perigosa.

Ao mesmo tempo que a perversão da amante é desconsiderada como humana (e sombria), a depressão do professor que prestou concurso para exercer como concursado (lê-se, com os direitos que lhe cabem) a função que já exerce há mais de 10 anos, é super valorizada. O professor é considerado inapto para exercer a função, pois teve um quadro depressivo na vida. Algum médico do trabalho atestou a insanidade, e deve ter assinado isso. Mas este está protegido, junto com os Kadafis, os Berlusconis e os pastores pelo poder que tem sua merda de assinatura.

pág. 78 do Admirável Mundo Novo:
"Nosso Ford - ou nosso Freud, como, por alguma razão inescrutável, preferia ser chamado sempre que se tratava de assuntos psicológicos - Nosso Freud foi o primeiro a revelar os perigos espantosos da vida familiar. O mundo estava cheio de pais - e, em consequência, cheio de aflição; cheio de mães - e, portanto, cheio de toda espécie de perversões, desde o sadismo até a castidade; cheio de irmãos e irmãs, de tios e tias - cheio de loucura e suicídio."

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