quando o reflexo do drama humano não reflete

O cinema é a única arte que me faz interromper a vida por segundos, é uma pausa, como uma suspensão. Talvez por isso preciso de doses semanais.
Recentemente assisti a 3 filmes: Tetro, Você vai conhecer o homem dos seus sonhos (You Will Meet a Tall Dark Stranger) e Além da Vida (Hereafter). Algo muito estranho está acontecendo, ou comigo ou com o mundo ou com os 2.
Amo o trabalho de Vincent Gallo, tenho adoração pela sutileza da visão do trágico de Clint Eastwood, que considero o melhor diretor de cinema de todos os tempos (acho mesmo) e Woody Allen traduz a minha visão do mundo. Mas... o que houve? Eu estou envelhecendo e me distanciando aos poucos do mundo ou esses 3 filmes estão retratando algo do qual não consigo mais me identificar. Sim, porque existe tela mais projetiva do que o cinema? Me recuso a acreditar que os 3 filmes falam sobre o nada...
Tetro é um filme lindo de se ver, sobre uma história que conheço faz tempo e que possui uma relação pessoal comigo. Mas não foi bem contada. Tive a impressão de uma linda história mal contada, foi isso. Não fosse Gallo para arrebatar qualquer situação com a poesia de seu olhar, nada teria valido a pena. Em Você vai conhecer... passam-se horas de nada, de coisa alguma, de obviedades sem sentido. Salvo talvez pela cena em que Naomi Watts revela sua trágica questão pessoal confundida com paixão pelo chefe Antonio Banderas. E Além da Vida, o mais triste. O último filme que vi de Eastwood foi Gran Torino, um dos filmes que mais gosto. Talvez tenha agora criado muitas expectativas. Confesso que tenho verdadeiro ódio dos filmes "espíritas" que no Brasil, viraram mais uma alternativa para o dízimo. Mas Eastwood falando sobre isso? A velhice e a próximidade da morte talvez me responda quando eu chegar lá. Clint com seus 80 anos me fez refletir com este filme que depois de um tempo grande de vida nos tornamos meio místicos, seja lá quem formos, como ensinou Jung. Se algo se salvou foi a excelente atuação de Matt Damon, que me lembrou por diversas vezes que o filme era sim de Eastwood.

Depois de um tempo os reflexos, as identificações e os impactos que as coisas causam, acabam se misturando demais com a realidade. Estou envelhecendo... Um dia, alguém, quem sabe eu, deveria escrever algo sobre os olhos de Vincent Gallo.  ...allo specchio sempre lo stesso sconosciuto...


Postagens mais visitadas