O Tylenol e o trabalho


Num desses dias onde a dor de cabeça crônica me tomou a tarde, fiz a grande descoberta: a coisa mais capitalista do mundo capitalista é o Tylenol. O Tylenol é como um cala a boca prá quando seu corpo não consegue maisolhar hipnotizado a tela de um computador, vendo coisinhas que se parecem letras formar frases descoladas da realidade, da ética e da inteligência básica. Ele faz passar... em minutos você está pronto prá voltar a produzir mais sandices para o mundo coorporativo. Deviam colocar Tylenol nas caixas d´água das grandes empresas... Até por que percebi também se tratar de uma dor coletiva, assombrosa, aterrorizantemente transparente, quase imperceptível.
Em uma dessas tarde repletas de Tylenol comecei a ler Giorgio Agamben. Giorgio Agamben nasceu em Roma, em 1942.  Formado em Direito, escreveu uma tese de doutorado sobre o pensamento político de Simone Weil.  É exaluno de Heidegger e o responsável pela edição italiana da obra de Walter Benjamin. Leciona Estética na Facoltá Di Design e Arte em IUAV em Veneza. Sim, um pensador que não é americano, ou alemão, ou... é um homem italiano! (Que bom, assim consigo ler com mais prazer...).
Agamben analisa o mundo globalizado, Um mundo desbussolado onde surgem novas figuras que acabam ficando à margem da sociedade e do direito e sobre o que é o agir político no mundo atual; um mundo que, politicamente, encontra-se bastante próximo do modelo dos campos de concentração de Auschwitz. Que atua sobre os não sujeitos, isto é, sobre aqueles que são privados de seus direitos, e eu diria, de sua liberdade. Liberdade na minha adolescência, era uma escolha sartreana. Hoje atolada com minhas 44h semanais, tá mais pra um verso do Mano Brawn que vivo cantarolando à minha moda: "... mais um dia, sob o olhar nauseante do vigia..."
E então, diante da minha náusea tylenoliana, voto em branco pela primeira vez desde meus 18 anos, o Estado, a Empresa, a Religião, a Família... tudo perdeu sua cor... é a cegueira branca.
O status de transgressão então pode ser então, tanto controle por meio da excessão de Agamben quanto um ato  revolução. Em branco, pelo que lutar? Ou pelo texto da Maria Rita Kehl? Talvez pelo direito de emendar o feriadão...

De frente prá o real precisamos lutar para que algo transgrida a Lei, para que se instaure simbolicamente de outra forma. Sair da forma, sair da norma, criar mais que necessidade: desejo, algo individuo al... só no singular pode-se questionar a regra em nome de alguém. Um passivoTylenol me fez perceber o sintoma: a ponta dolorosa do meu iceberg. Prá isso tem o Prozac, ou até, o Viagra...

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