O nome das coisas




Em uma sucessão de coincidências, eu diria que freudianas, li o livro do Juliano Garcia Pessanha, Certeza do Agora, assisti A Fita Branca de Michael Haneke (que também fez o belíssimo A Professora de Piano), li a entrevista do Mirisola e achei um comentário da Marcia Tiburi sobre o livro lido do Pessanha.
Cadeia confusa? nem tanto...

"O que é, pois, uma HETEROTANATOGRAFIA? Se a autobiografia é narrativa pessoal, autoconstruída, a heterotanatografia é o seu contrário: a morte de alguém narrada pelo outro. No entanto, sendo o próprio autobiografado a narrar o que nega sua própria condição de autobiografado, surge a pergunta: o que seria a escritura da morte de alguém narrada pelo outro quando este outro é o próprio sujeito narrador e o próprio objeto sobre o qual se narra algo. Em outras palavras: que lugar paradoxal é este de um sujeito que se faz objeto, de um mesmo que se faz outro, de um outro que se faz mesmo?" (Marcia Tiburi)

A leitura de Heterotanatografia é densa, nó no lugar-garganta. Pela delicadeza da itimidade, como bem disse Tiburi, prefiro não comentar, como disse para Mirisola, pelo mesmo motivo os quais prefiro não ler as cartas não endereçadas a mim.


Poema do Amor Consumado
(Juliano Garcia Pessanha)

Tendo morado na dor do não-acontecido e tendo
visto os casais de mentira vagarem pela orla de uma
praia cujas ondas jamais quebravam, pude compreen-
der que só poderia desaparecer na areia de todos os
fins se tivesse alcançado a condição de espuma.



"Só a narrativa pode salvar a alma vendida, perdida, abandonada na esteira do nada ao qual somos cotidianamente lançados em dias feitos desvãos daquela dor que em Schopenhauer assumiu um nome tão simples: dor de existir. Narrar é elaborar e, mais fundamente, “perlaborar” como falava Freud, é permitir que a forma mais funda da experiência se exponha por meio do único modo pelo qual ela pode nascer: a palavra." (Marcia Tiburi)

Michael Haneke, disse sobre seu filme:
“ É um filme sobre as raízes do mal. É sobre um grupo de crianças, que são doutrinadas com alguns ideais e se tornam juízes dos outros – justamente daqueles que empurraram aquela ideologia goela abaixo deles. Se você constrói uma idéia de uma forma absoluta, ela vira uma ideologia. E isso ajuda àqueles que não têm possibilidade alguma de se defender de seguir essa ideologia como uma forma de escapar da própria miséria... Sempre há alguém em uma situação de grande aflição que vê a oportunidade, através da ideologia, para se vingar, se livrar do sofrimento e consertar a vida. Em nome de uma idéia bonita você pode virar um assassino.”




pronto. amarrado.

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