na íntegra, do blog Generacion Y da cubana Yoani Sanchez


Marzo 8th, 2010

Casa de cristal


Junto da telenovela brasileira, os documentários pirateados do Discovery Channel e a chatíssima mesa redonda, coexiste uma modalidade de reportagens televisivas seguidora da saga “Big Brother”. Em nossa pequena tela assistimos cidadãos filamdos por câmeras ocultas e vemos a divulgação das mensagens contidas em suas caixas de correio eletrônico, sem que para isso tenha havido a ordem de um juiz. Como se vivêssemos numa casa de cristal inspecionada pelo severo olho do estado, até a própria empresa telefônica grava as conversas de seus clientes e as transmite para onze milhões de telespectadores atônitos.

A última modalidade desta dissecção pública é induzir médicos a falarem, violando a privacidade do falado numa consulta - fato tão grave como o do sacerdote que revela os segredos da confissão - dos pormenores de um caso médico. Saem fotos do interior das casas e dos refrigeradores de quem tenha ousado contrariar a opinião oficial, enquanto o paparazzi e o policial político se fundem num só personagem muito próximo ao do voyer. Não me causaria estranheza que em algum dossiê - esperando por vir à luz - apareça o corpo nú de um inconformado, como se estar desnudo fosse a prova irrefutável de sua “maldade”.

Imagens tiradas de contexto, frases editadas e ângulos desfavoráveis para gerar aversão na opinião pública, são algumas das técnicas com que se constroem estes informes televisivos. Em nenhum deles se entrevista a “vítima”, pois assim evitam que a audiência pública comprove que divide com ela as opiniões críticas. Para má sorte dos grosseiros produtores deste tipo de reality show, a tecnologia em mãos cidadãs começou a tornar transparentes também as paredes de suas vidas. Depois de havermos sido observados longamente, agora comprovamos que há um buraco para olhar o outro lado da cerca.

(Traduzido por Humberto Sisley de Souza Neto)



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