Podia ser o último...


(essa foto foi tirada por um antigo e eterno amor, que ficou encantado pelo brincar solitário da criança em Paraty)


O abandono é meu antigo companheiro, e de uns tempos prá cá resolvemos nos entender. Abandonar e ser abandonada são coisas que podem ser aprendidas, no meu caso, nasci sabendo.
Uma coisa que sempre me chama atenção nos textos e na vida do escritor Marcelo Mirisola é o abandono. Abandono das palavras, que são suicidas, abandono de si mesmo, abandono dos lugares, pessoas e coisas. As palavras do Marcelo nascem com um limite de existência, morrem imediatamente ao nascer, não duram nem uma única vida. Em Memórias da Sauna Finlandesa, mais especificamente em Olhos de Cais (liiindo...), lá vai Marcelo: "...jamais tive vocação para ser enseada, eu tinha de ir antesde eu  mesmo virar uma carcaça de cavalo abandonada numa praia deserta..." Essas palavras-imagens falam de uma vocação. Uma vocação a não ser mãe, a não ser esposa, a não ser nada que pertença em definitivo. Estou falando de mim. A vocação de não ser enseada e de ser mar. Mas ainda pensando, e lendo, "... e percebi, pela primeira vez, que a coisa era comigo, afinal"... genial... sempre é.

Mas o abandono, as vezes até de si mesmo, é um irmão, um alívio, uma imensa calmaria. Oásis dado de graça pela vida. Demorei para entender que não se pode ir contra a própria natureza. Por motivos ou sem motivo, abandonar é preciso.
Marcelo arruma as malas, está sempre em algum lugar definitivo diferente. Eu raramente arrumo as malas, mas vou sempre a lugares onde roupas e coisas não são necessários. Minha própria Ana C. e um amor holográfico (mas único, e que tinha que ser), são as únicas coisas que me fixam, e que eu carrego... Isso sim é prá sempre: você mesmo.

Olhos cheios de adeus (Marcelo,) são sempre mensagens de boas vindas.

(O abandono vai retornar, a consumir minhas palavras, pois estou em meio e diante de um enorme)


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