autor, verdade e sentimento e muita Gentileza

Ruy Filho disse... (sobre o texto da tortura)
que bom que escrevera tudo isso. Acredito em tudo o que disse. E essa é a dor de fazermos o espetáculo. É preciso que cada um dos envolvidos - eu, atores, outros integrantes (Patrícia e Priscila) que lá estão todas as apresentações ajudando a estruturar e organizar as coisas para que tudo funcione -, todos nós somos obrigados a conviver com a dor de um discurso cruel que vai além do que acreditamos.Isso nos faz artistas. Nem melhores, nem piroes.Não ocupamos o palco para defender discursos politicamente corretos, mas para construir diálogos incômodos com o público, deixá-lo desconfortável e reflexivo. Se afirmássemos uma posição, apenas traríamos o sentido do correto e da conveniência, utilizando o óbvio do senso comum (correto), sem muito o que acrescentar que não apenas o mero 'eu não penso exatamente assim'.Optar por desenvolver um espetáculo como o complexo, sem julgamentos morais (porém não imoral, e sim amoral), é propiciar ao espectador os intrumentos para sua própria conclusão.Infelizmente, a metáfora do espetáculo é intransigente com realidades românticas. Vivemos sim centenas de mecanismos de dominação e manipulação que transformam nossa capacidade de sentir e se relacionar de acordo com as conveniências do dominador. Não há como fugir disso. Nem mesmo se nos isolarmos em um casebre no mato, ainda assim estaremos condicionados aos valores de quem os possibilitam.Ser artista, ao contrário do que vem sendo vendido nesse país louco, não é simplesmente apresentar idéias próprias, conceitos originais. Hoje, acreditamos, o mais importante é dizer o que precisa ser dito, ainda que isso nos leve ao sofrimento. É essa nossa função, sem qualquer espectativa de redenção por isso.Pode ter certeza... a dor do espectador pode ser grande, mas a nossa vai além de um dia. Ocupa já seis meses de convivência, e surge insolúvel e incurável no momento de sua gestação.Somos assim. Sou assim.Como disse aos meus atores na estréia, entremos no palco não para fazermos o NOSSO espetáculo, mas para devolvermos ao mundo o desagradável que o mundo nos oferece a cada dia, e assim culpar a cada um que lá estiver sentado, assim como culpado somos nós.Quando o mundo mudar, talvez passemos a criar histórias com finais felizes... por enquanto, apontarei os torturadores nas ruas, mesmo que para que consiga causar sua repulsa, seja obrigado a defendê-lo.Não estou aqui para oferecer julgamentos, para entregar ao público a capacidade de julgar.
Digamos que vc passou no teste!
Continue em nossas platéias.
Beijos
RUY FILHO

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