Eu vi o ensaio sobre a cegueira

(em defesa de uma certa anormalidade)
“enquanto todo mundo espera a cura do mal
e a loucura finge que isso tudo é normal
eu FINJO ter paciência”
Lenine

E de cegueira branca é feito o escuro.
O que é normal, o que é possível, o que é real? Ser normal é ser incluído, ser aceito. Ser comum é ser banal, é ser mediano. Assim, posso ser. As paixões não me permitem ser, me possuem, me desnudam, melhor, tudo controlar. Da transgressão aos caos, que a alma seja normática. No mundo dos cegos de Saramago, a linguagem é muda. Não gostaria de discorrer sobre toda essa questão da transgressão associada ao declínio do nome do pai na sociedade contemporânea como suporte para a lei simbólica, , nem porque a mulher do médico é a heroína que lima a bunda de seu marido, que trepa com a prostituta cega em meio ao caos, nem porque quando tudo está novamente em paz, o lindo casal faz amor em sua cama, em sua casa, quase que sem se mexer. E o estupro coletivo se contrapondo ao banho de trás mulheres nuas e brincando na água, também se revelam complementares. A ética, a ordem, a moral, o tal do bom senso, estão ligadas a uma ideologia social, ou a uma certa civilidade. Sem ela somos apenas caos. Seres do caos. Transgredir, é não aceitar esta ideologia social. Nem sempre é algo ruim, transgredir é arte, transgredir é resistência. Transgredir, como diz meu amigo italiano é responsabilidade, e neste sentido, apenas humano. Cito Jurandir Freire Costa, especialmente para Antonio: “A Arte é um meio legitimado pela moral dominante de gozar com aquilo que seria proibido, caso fosse exposto no conteúdo das fantasias individuais”. Assim caro amigo Antonio, sua arte é transgressora, e você um artista.
Retornando a cegueira branca, conservação e transgressão são tratadas como porções de um mesmo conteúdo. Belo filme, onde o tema do desamparo encontra um escape na pulsão de vida. O laço social que pode ser destruído, também pode ser reconstruído. Lindo isso, é claro, estou sendo sarcástica. A criação da ordem pela desordem, é fonte de evolução. (hahaha, desculpe... adoro pedir desculpas, é a forma mais covarde de transgressão)
Enfim, filme lindo, fotografia com uma claridade que incomoda, porque deve incomodar mesmo. Fico com a claridade da cegueira diante da escuridão da clarividência.

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